A propósito de Octávio
Octávio, como é o seu hábito, não está. Na verdade, a ausência é a sua principal qualidade, a capacidade de ser sem estar, a invisibilidade. Octávio de sua graça, o nome pelo qual terá sido baptizado, o nome pelo qual alguém o procura.
Octávio nunca responde, não por falta de educação, não por falta de ouvido, mas tão somente porque não reconhecer o seu nome. Tem uma audição normal, igual à acuidade auditiva de qualquer outro dos membros do coro que agora frequenta. Sabe ler e escrever, não tem dificuldades de compreensão e não apresenta qualquer nível de demência.
Talvez Octávio não seja mais que um engano, engano esse que o acompanha desde sempre. Como poderá alguém não existir, ser amiúde evocado e não ter forma corpórea, ser alguém em concreto?
Admitia ser acusado de falsete, mas jamais poderia admitir a falsidade do ser. Antes castrado que inexistente; antes Octávio que otário. Se Octávio é nome de homem, ele prefere ser mulher.
Octávio?
Quem em vão chama por ele?
Octávio poderá ser qualquer um ou não ser ninguém, mas ambas as alternativas são inadmissíveis, imperdoáveis.
Octávio é o seu nome e Octávio não é.
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