Absorver
Não conseguimos absorver tanto, não somos esponjas, cisternas sem fim, oceanos. Somos seres simples, duma enorme complexidade, mas simples. Só alcançamos uma coisa de cada vez, quanto muito duas e se uma delas for de forma inconsciente. Somos inundados de cenas e limitamo-nos a um lento afundar, um pouco mais a cada passo. Temos tantas coisas no colo que não nos conseguimos erguer, caminhar, fugir dali. Afogamo-nos sem termos completa consciência do facto, até ao dia em que sentimos a apneia, a suspensão do ar, o grito mudo. Aí, se tivermos sorte, paramos, sacudimos o excesso de água, secamos o pelo e prometemos a nós próprios que, daí para a frente, nada será como dantes, mentimos.
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