Lynn

Sinto uma doce ansiedade, com a textura que nos inunda quando a espera é bonita, quando aguardamos por algo muito belo. A viagem comprada aconchega, apazigua a espera.
O telefone toca e quase não são precisas palavras para que a notícia inunde os olhos, encha o peito duma suave alegria, de paz.
Nasceu, és avô, estão bem, é uma menina.
O mundo parou, nada mais existe, somente o presente. 
Quero saber mais, como se chama, que peso tem, quanto mede, como se sente o meu filho, como está a mãe. Na verdade, somente quero saborear o momento, resgatá-lo para todo o sempre, flutuar na felicidade, por um instante que seja.
Como cheguei aqui? 
Como chegámos aqui?
Um mais um faz dois olhares que se cruzam e ficam para sempre. Passaram a quatro, depois a seis e agora a sete. Durou não mais que um segundo, anos comprimidos num infinitésimo, tudo e nada, tantos acasos que levaram a este, acasos que levaram a outros acasos, que culminaram, por ora, neste feito. 
Qual é a probabilidade dum acaso?
Ninguém sabe.
Falta cheirar, sentir, tê-la entre os braços, vencer a distância. 
É a serenidade em forma dum pequeno e belo ser. Tal e qual o nosso querer, muito para lá da nossa imaginação. Não sei o que sentir, o que escrever, somente sei que passei a ser avô e ele passou a ser pai. Uma nova etapa neste nosso caminho, cruzado com o caminho de outros, unidos.
Por aqui estamos, saboreando o novo estar, tacteando, perdidos no texto, procurando como actuar, ensaiando em directo as primeiras cenas, falas que pensávamos conhecer, mas que afinal, sendo as mesmas, são outras. O nosso papel mudou, novos actores entraram em cena, a nova protagonista, uma princesa mais, acabou de nascer, passou a ser gente. Tem mãos de pianista, de chefe pasteleira, as mãos da bisa que lhe deu nome, que no céu não consegue parar de sorrir, de olhar para ela, de cuidar que coma bem.
Planando na serenidade do momento, por ora regressamos, para em breve voltar.

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