E agora?

Algo mudou; já não sou quem era. Anos passados (cinquenta em liberdade, após nove que, felizmente, não tenho memória), dobrei uma qualquer esquina, desviei-me, entrei num novo viver. A essência pouco mudou; do embrulho não posso dizer o mesmo. Terei, quem sabe, finalmente amadurecido, abandonado o ser verde, inocente. O mais certo é ser somente a erosão dos tempos que voam, variações de nós mesmos, moldadas pelo tempo. Olho o espelho d’água que reflete um outro ser, torcido pelo vento, pelo imperceptível ondular, pelo cinzento do céu. 
Há gaivotas no lago, longe do rio, afastadas do mar. Há gaivotas em terra.
E agora? 
A chuva regressa; miudinha, molha parvos. Sinto o desconforto do pano molhado; da humidade; da brisa fria. Procuro abrigo; o claustro reconforta. Desejam-me um bom dia; sorriem-me; sorrio. O sol rasga as nuvens, aquece o ar, envolve o corpo, limpa a mente, abre o horizonte, deixa ver para lá da cortina.
E agora? 
Agora, levantas-te e andas; o caminho faz-se caminhando. Sempre assim foi; sempre assim será.

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