Palco
O Comandante, por uns dias, assumiu um outro papel, travestiu-se de actor, esqueceu a pandemia que nos cobre os rostos. No palco ela não entra; no palco ele descobre-se. Por uma hora, entra noutro planeta, esquece o Comandante, a situação em que temos estado, a curva. Um lapso de felicidade que lhe enche a alma, que o deixa a flutuar em órbitas baixas, com os pés assentes na Terra. A nave assumiu a forma de palco, ganhou uma nova tripulação; é um outro planeta, uma outra atmosfera, um diferente respirar, um deixar ir, uma ínfima fração em que o tempo e o espaço se contraem. Algum tempo atrás, o Posto de Comando anunciou o dia da Grande Libertação. O Grande Timoneiro afirmou, firme e sorrindo, que faltam poucas etapas para derrotarmos o inimigo comum, para reconquistarmos a Liberdade. O dia estará perto, começamos a sentir o alívio. No palco, o alívio é total. No entanto, o Comandante está cético, não baixa a guarda e assim o fará enquanto o bicho andar por aí. Mas ganhou alento, esperança, arrancou as ervas que se acumulavam na proa desde o início da pandemia, desde que o recolhimento deu às ervas liberdade para crescerem. Quis assim marcar o renascimento da esperança. Visitou amigos e deixou que amigos entrassem na sua nave. Com cuidado, com a devida distância, mas abraçando-os, sentindo o seu calor. Por ora, a nave é o palco, o Comandante ausentou-se, uma outra personagem assumiu o seu corpo. #VaiFicarTudoBem
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