No passa nada
De novo viajamos. Meses depois, por uns dias, vivemos um pouco mais a norte, rodeados de outras línguas, montanhas, verde, mar; envolvidos num calor que não esperávamos, pouco usual por aqui. Somos recebidos pela alegria de quem nos aguardava, por quem nos esperava na calma ânsia de nos mostrar estes lugares, aqueles que são seus e que agora passam a ser um pouco nossos. Deixamos o tempo passar, simplesmente; no passa nada. Basta-nos o estar, juntos, desfrutando em conjunto o momento, a paisagem, estas terras, estes hábitos. De novo questiono-me sobre o caminho. Que passos teremos dado até aqui? Que fizemos para merecer tal dádiva? São lugares estranhos, mas ao mesmo tempo familiares. De aquele tipo de estranho que rápido se entranha, que logo passa a ser nosso. Estar é sempre para lá daquilo que tínhamos imaginado. Os lugares e as pessoas estão muito para lá do que tínhamos conseguido esboçar em pensamento: uns espaços são afinal maiores; outros tínhamos concebido mais amplos. Somos recebidos como príncipes, como sempre tivéssemos estado, como se de família se tratasse. E afinal é isso mesmo, são novos ramos, com folhagem e flores distintas mas em tudo iguais. Os nossos galhos que se unem com os deles, os deles que se entrelaçam com os nossos, criando um novo bosque, único, muito verde, muito fresco, bonito. Em torno duma mesa partilhamos sabores, histórias, desenhamos pontes, sorrisos. Dum golpe o tempo voa e voltamos a partir. O abraço na despedida tudo condensa, fica agarrado à pele, diz-nos que em breve nos encontraremos, que logo, logo, queremos voltar.
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