Ano 1

E aos dezasseis dias passados do mês de Março, faz um ano, escrevia a primeira crónica deste entorpecimento, desde a minha nave. Era o dia 1 do recolhimento orbital obrigatório. Relatava a estranheza dos dias diferentes, das rotinas quebradas, do retardar das horas. Questionava o que estava para acontecer, não  tendo a mínima ideia; a única certeza era o seu oposto e a certeza que, à cautela, era melhor acatar os que nos diziam, subir para órbita e aí ficar. Reinventámos os dias que passam, seguimos o instinto, adaptámo-nos. Nada mais natural, mais humano, mais de acordo com a lei da evolução das espécies. Foi um ano em que mostrámos a nossa infinita capacidade de adaptação, seja ao que for, não importa as circunstâncias. Adaptamo-nos, encontramos forma de sobreviver e seguir em frente. Sei que escrevo de barriga cheia - o meu postigo nunca fechou e pouco mudou -, tenho plena consciência da minha sorte. Muitos outros não tiveram sequer tempo para se interrogarem, muito menos para pensamentos filosóficos, para devaneios em forma de crónicas; tão simplesmente procuram sobreviver. Hoje escrevo que sinto esperança, uma pequena mas nítida luz lá longe, o ponto azul cada vez mais perto de mim. #VaiFicarTudoBem

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