Tempo
De novo cheira a primavera, e nós continuamos aqui, passados meses, quase um ano. Sinto que muito mais passou, que se foi estendendo preguiçosamente, sem pressa de acabar. O tempo não é o que pensamos, li hoje no jornal. Não tenho a menor dúvida, mas também não sei o que é. É uma realidade e uma percepção, que se confundem, diferente em cada um de nós, dependente do momento, do espaço, da idade. Era enorme quando íamos de férias e o sol banhava os nossos corpos castanhos, escamados, durante três longos meses; não chega a um segundo quando agora estamos felizes; é um enorme desfiladeiro quando a ansiedade toma conta de nós; é uma constante precisa medida pelos relógios. Esta semana, por umas horas, por uma ínfima fração, levámos a nave para órbitas a Oeste, lugares que não visitávamos fazia semanas. Quase não encontrámos vivalma, certamente protegidas entre paredes, longe de olhares, cumprindo o recolhimento, sentindo o lento passar dos segundos. Soube bem mas logo acabou. Lembro a minha avó e os seus cabelos cinzento claro, o seu sorriso, o brilho no olhar, o delicioso tempo que passávamos com ela. Ai, o tempo tinha outra graciosidade, um morno que só ali existia, um ar aveludado que nos cobria os corpos, descansados, aguardando o amainar da canícula diurna, o lento arrefecimento que nunca o era. #VaiFicarTudoBem
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