Dia quarto do segundo
Sentado no passadiço da ré, desfrutando o sol, regresso a Março. Maravilhoso calor; má memória. Está bem quente, contrasta com o sombrio dos dias que passam por nós. Esqueço o dever de recolhimento, o cabrão do vírus, a imensidão de mortes, o estado em que estamos. Talvez seja o que todos tentamos: abstraímo-nos da lama em que estamos enfiados, da dor e do sofrimento que continua a ser de outros. Desta feita, não existem tantos postigos como havia em Março, mas alguns voltam a abrir. É um recolhimento mais isolado, mais resignado, talvez por isso menos aceite. Procuro não contribuir para caos, manter-me afastado, em órbitas elevadas, pouco concorridas. Desço à terra somente para o estritamente essencial: abastecimentos, exercício e suporte às naves mãe. Com essas estou preocupado, temo pela sua débil proteção, pela sua resistência. O mundo roda mais lento, voltamos a não ter planos, a viver um dia de cada vez, na esperança que a Primavera nos traga algo de bom. #VaiFicarTudoBem
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