Louco vinte

Quem disser que este ano não o marcou, ou é mentiroso ou perdeu qualquer réstia de sensibilidade. Escrevo sentindo o eco de todos estes meses, das frustrações, do deslasse, do deslaço, da distância dos abraços, do contacto que sempre me custou e que agora tanta falta me faz. Muito mais que a distância física, é a falta que as pessoas me fazem, as multidões, o respirar conjunto. Tudo aquilo que abominávamos, é agora ausência que queremos preencher. Por estes dias, estou especialmente sensível, nostálgico, perdido na tradução, na interpretação dos sinais. Lembro Lost in Translation, de Sofia Coppola, um dos filmes que me tocou e que amiúde recordo. Lindíssima a cena em que homem velho e mulher nova, perdidos em quarto de hotel, num bonito enlace sem toque, conversam, salvos um pelo outro. É assim que lembro essa cena. Talvez não seja assim mesmo, talvez outros tenham passado por ela sem a sentir, ou tenham tirado significado diverso. Entramos na semana do Natal, desta feita na nossa nave, em órbitas separadas, sem laços e sem abraços, perdidos na procura das palavras correctas que permitem traduzir um ano que foi vinte, um ano que queremos esquecer, no início dos nossos loucos anos vinte.
#VaiFicarTudoBem.

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