Orelhas

Acho que estou a ficar com as orelhas deformadas. Não é que estejam a ganhar asas de abano, não é isso, é outra cena que não sei bem qualificar ou quantificar. Convenhamos que sujeitá-las a uma tração constante, dia após dia, não é boa ideia. Já bastavam as hastes dos óculos a chafurdarem no exíguo espaço entre orelha e crânio. Agora têm de partilhar estas mesmas nesgas com um par de elásticos que sustenta o novo acessório. Pior mesmo, só a música irritante da nova publicidade do MiniPreço. Horrível! A que vem isto a propósito? Não sei. Fechamos o intervalo e voltamos ao tema que nos trouxe aqui: a deformação dos excertos que designamos por orelhas. Faz alguns dias que sinto os óculos soltos, quando usados em concorrência com os referidos elásticos. Pergunto-me se as orelhas estarão a dar preferência ao novo tecido e a rejeitar educadamente as velhas hastes plásticas, ou se simplesmente estão a ficar frouxas. Do outro lado, o pavilhão auricular está completamente alheado da guerra que se trava na face oposta da concha. O mesmo não podem dizer os lóbulos, constantemente incomodados com o tira elástico, coloca elástico. Um drama, o horror, a desgraça. Sim, estes são os temas fracturantes da sociedade e do mundo. Pelos menos são fracturantes ao nível das orelhas, na frágil fronteira em que estão suspensas, mais ou menos a meio, em lados opostos da abóbora que está no topo do nosso corpo logo acima do pescoço e neste sustentada. Tenham um dia feliz. #VaiFicarTudoBem

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