Gaiola

Temos de ficar em casa, ordena, zangado, o Posto de Comando. É simples, temos de afastar-nos, não termos contactos com os outros, esquecer o mundo, pensar que não existe, viver no espaço restrito da nossa nave, do nosso casulo. Pedem-nos um esforço adicional, para controlar as mortes, ajudar os homens e mulheres que estão na frente, permitir ter Natal. Mas mesmo este, em bolhas familiares reduzidas, com todas as precauções, com perus e bacalhaus mais pequenos, sem a algazarra doutros anos. Estamos tramados (para não dizer mais e ser educado). Nunca mais nos livramos desta coisa, desta praga, deste castigo. Como dizia o outro: que mais nos irá acontecer? Cada um arruma-se em si, no seu canto, atrás do seu postigo; aqueles que têm sorte de ser gente, ter um canto, ter um postigo. Muitos serão os que não os têm, que os viram desaparecer nestes tempos, que olham para a frente e só vêem escuro. Este fim de semana subimos para órbita, enfiamo-nos na gaiola, sentamo-nos num poleiro e esperamos, até ser de novo segunda-feira. #VaiFicarTudoBem

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