Pássaros
Já não ouvimos os pássaros, lembrou-nos David Attenborough numa interessantíssima entrevista ao 60 minutos. O silêncio de Março e de Abril dissipou-se, o ruído calou o cantar, matou o nosso espanto. Durante aqueles meses sentimos o seu toque, o piar apaziguou o confinamento, ligou-nos à natureza, ao belo que é viver neste planeta, ao muito que as cidades escondem, ao animal que afinal somos. Eles continuarão por aí mas já não os escutamos, a sua música foi abafada pelo ruído, simplesmente abalaram para outras paragens, só cá voltarão quando de novo a cidade os quiser escutar. Hoje, no passadiço da ré escuto a chuva mesclada com o cantar dum pássaro. Por instantes, o que antes não escutava, voltou à superfície, de novo a tempestade trouxe um cantar. Na proa os pneus cruzam o chão molhado, os motores agitam-se, as pessoas apressam-se. Sabe-me bem voltar a este postigo, refletir sobre aqueles dias, olhar com distância para eles. Quem sabe não teremos que os reabrir, uma vez mais recolher às nossas naves e subir a órbitas onde possamos escutar de novo os pássaros. Nada será como antes, sempre assim foi e sempre assim será. Só não sei se os pássaros voltarão.
#VaiFicarTudoBem
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