Somos seis
Não sei como aqui cheguei, que passos dei para a graça que recebo, para a felicidade que sinto. Rodeado deles, sorvo a tranquila paz e interrogo-me, tento vislumbrar o percurso, focar o discernimento. Evitamos o beijo, mas não o abraço, o olhar, a gargalhada, o estar. Basta-nos ser, continuar a conversa suspensa, nunca interrompida, que flui desde sempre e que sempre irá flutuando, aqui, ali, onde nos encontrarmos. Que fortuna é esta? Que fiz para a merecer? Estranho ano este em que juntamos o receio com a felicidade, em que a sequência dos tempos foi alterada, em que afinal o areal e o sol sabem a areal e a sol, quando nos tinham anunciado outro sabor bem mais amargo. O Posto de Comando tem razão: temos de viver com ele, e assim vivemos. Alterámos hábitos mas não o estar presente. Somos dois mais, como se sempre tivéssemos sido seis. A divisão celular completou-se criou dois novos núcleos, independentes, lindos, indeléveis, eternamente entrelaçados com o nosso. Escrevo no dia em que, uma vez mais, partem, regressam às suas novas terras, deixando o seu calor que perdurará até que estejamos de novo juntos. Percorre-me a leve sensação de abandono que me acompanha desde que a metamorfose se deu e novos jardins fizeram florescer. Mantemos a nave a Oeste no lugar que sentem seu, onde o sol brilha e o vento se fez brisa.
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