Covid dia 73
Descemos à Terra, fomos até ao Chiado, estranhámos. O vazio e o silêncio pesam, baixam a nossa voz, calam, levam-nos a meditar. Percorremos a rua do Poço dos Negros, entramos no Camões, descemos a rua Garret. Percorremos com o peso da canícula, perfurando a massa de ar quente, com o espanto das lojas fechadas, a ausência de turistas, a ausência de gente, os sinais que algo aconteceu e que ainda não acabou. Um vazio que contraria a algazarra diária destas ruas. Nem oitenta, nem oito; o que nos afastava é precisamente aquilo que agora desejamos: gente, vida, agitação. O que antes era demais, agora está em falta. Incomoda este mar de silêncio; o que antes eram vagas alteradas, barulhentas, agora é uma cidade que, conhecendo cada palmo, parece estamos a visitar por uma primeira vez, é novamente a pacata cidade da nossa juventude, a cidade do grande incêndio, um estranho vazio. Encontramos, pela primeira vez em dois meses, um igreja aberta, com as portas escancaradas, com a doçura do fresco interior. Acendemos uma vela a Santo António, pedimos a sua proteção para quem sabemos precisar, para nós, para todos. Voltamos mas não sem antes passar pela livraria Barata e comprar um livro. Triste, vazia, prestes a fechar portas. Ali namorámos, ali fomos várias vezes de propósito, ali encontrávamos as novidades, as melhores revistas, os melhores livros. Agora é vazio. Estranhos os tempos que vivemos. Tenham um bom dia. #EuQueroVoltar #VaiFicarTudoBem
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