Covid dia 65

A cada dia que passa tenho mais dificuldade em ver os, outrora essenciais, noticiários orbitais. Seguem, desde que subimos para órbita, o mesmíssimo alinhamento, de manhã à noite, dia após dia, semana após semana. Nada mais existe para lá do estado em que estamos, tudo o resto eclipsou-se. Julgo que já não haja pobres coitados a morrer no meio do Mediterrâneo, guerra na Síria ou crianças a morrer de fome. Talvez seja a parte boa do estado em que estamos: a ignorância de todas as outras desgraças que julgo continuem a acontecer pelo mundo fora. As únicas novidades no alinhamento é terem progressivamente relegado para segundo plano a conferência de imprensa diária do Posto de Comando e as visitas aos hospitais (talvez, porque os números já não são tão macabros, já não chamem audiências) e, terem iniciado a nova moda dos repórteres à porta dos negócios que vão reabrindo, entrevistando quem pouco tem para dizer além da esperança em dias melhores. Olhando daqui, da nave em que me encontro faz mais de dois meses, parece-me tudo estranho, despropositado; uma alegria antes de tempo, uma embriaguez prematura, talvez somente a necessidade de esquecer e seguir em frente, o procurar da mesma sensação que sentimos quando saímos trôpegos da sala dum cinema, por um silencioso e escuro túnel, quando despertamos da ficção e acordamos na realidade de sempre. #EuQueroVoltar #VaiFicarTudoBem

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