Covid dia 61
Iniciei o gesto e de imediato retrai o braço. Estamos programados para apertar a mão, estabelecer contacto, dar e receber calor; os músculos doem ao contrair-se, ao não completarem o habitual movimento. Ficámos assim, eu e o médico, à distância dum metro; fizemos uma pequena vénia, os olhos sorriram sobre o acessório e fomos ao âmago da questão: a revisão semestral ao aparelho visual. Estava adiada, aguardando a mudança no estado em que estamos; aguardando esta abertura, este início dum novo normal, do reinício de algumas indispensáveis práticas. Atravessei a cidade, diria que numa quase perfeita normalidade, não fosse o tempo cinzento, obras onde antes não as sabia e o acessório no bolso. Medem-nos a temperatura, dão-nos um acessório descartável e pedem-nos para circular por caminhos definidos. Estava tudo bem. Tenho sorte; vejo as imagens do tufão nas Filipinas, em plena pandemia, e não posso deixar de pensar que a porra é sempre a mesma: quem mais sofre são os que já sofriam. A porra é que muitos outros terão perdido muito, talvez tudo com o estado em que estamos faz dois meses. A porra é que pão de pobre quando cai, cai sempre com a manteiga para baixo e desta vez não será diferente. Quantos terão perdido os empregos, os rendimentos, a saúde, quantos estarão a passar mal, quantos entrarão à rasca no novo (a)normal. Tenham um bom dia. #EuQueroVoltar #VaiFicarTudoBem
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