Covid dia 60

Existem momentos em que me esqueço do estado em que estamos, longos instantes em que já não estranho e onde absorvo e entranho o novo (a)normal; intervalos em que a vida parece ter sempre sido esta, em que o cansaço nunca foi outro, em que não questiono o facto do escritório ter vista para a mesmíssima órbita em que moro, em que o café, a esplanada e o restaurante (do it yourself & self service) estão à distância máxima de quinze a vinte passos em linha reta. As salas de reunião são neste mesmo local e estão sempre livres, pois cada um passou a ter uma. Fora da nave, estão disponíveis CoviDrives onde podemos, de forma rápida e indolor, fazer um teste sem sair do carro, qual FastBurguer enfiado pelo nariz e as goelas. Os cruzamentos entre pessoas estão proibidos e não são precisas novas regras ou sinalética horizontal especial para nos obrigar a seguir em direções não convergentes, a evitar os outros espécimes; afastamo-nos por impulso irreflexo adquirido nos últimos dois meses. Faz hoje trinta e dois anos que o meu destino e o dela se uniram, tendo convergido alguns anos antes e gerado dois espécimes lindos. Hoje comemoramos, tal como o celebramos todos os dias, na alegria do encontro, a cada dia que passa, mesmo estando no estado em que estamos. Este é o admirável novo (a)normal. Esta é a sexagésima crónica da série Covid-19, passados quatorze dias do mês de maio. Tenham um bom dia. #EuQueroVoltar #VaiFicarTudoBem

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