Covid dia 49

Escrevo sobre os tempos que atravessamos, sobre aquilo que sinto, sobre as estranhas pequenas vitórias destes dias, da emoção da partilha. Ao fim do dia de ontem, o comunicador orbital chamou-nos. A nossa  Princesa surgiu no pequeno écran. Queria partilhar a alegria que sentia, ao fim de dois meses, quando pela primeira vez saiu à rua, caminhado uns quilómetros, de mão dada com o seu companheiro, desviando-se dos outros, em segurança. Ligou logo que chegou a casa; transbordava de contentamento, de libertação, de esperança. Sabe que ainda está longe mas sentiu uma réstia de liberdade. Tempos estranhos estes em que um passeio é sentido como uma vitória, como o início do fim desta suspensão, deste pairar em órbita, como um alívio. Escrevo arrepiado, emocionado, feliz pela minha Princesa, espantado com o tão pouco que todos desejamos. Ontem uma graça pousou na fronteira exterior da nave. Leve, deu alguns passos e voltou a erguer-se no ar. É a primeira vez que vimos tal animal nesta órbita. Hoje o maduro maio entra em força pelas escotilhas, puxa-nos lá para fora, tenta-nos. Sabemos que vamos resistir, atenuando a frustração com os flocos de alegria que continuam a pairar sobre nós. Três dias passados em maio, quarenta e nove em recolhimento. #EuQueroVoltar #VaiFicarTudoBem

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