Couve dia 59

Falamos sobre o acessório e não vamos ao âmago da questão. O acessório passou a ser omnipresente, assumiu o estatuto de moda, passou a fazer parte do novo normal e, além de cumprir a sua função base, é obrigatório combinar com os sapatos, as cuecas e as peúgas. Nunca as ventas andaram tão bem engalanadas, os beiços tão bem vestidos. Como para qualquer outro acessório, podemos escolher a forma, a cor, o tamanho, fitas ou elásticos, o tipo de tecido, se é lavável, ecológico ou descartável, o padrão. Existem com diversas formas e feitios: lisos, plissados, em bico de pato, tipo cirúrgico, para encontros sociais, feito em casa, feito à medida ou de pronto a vestir. Só não podemos alterar a função do acessório; esse sim é o âmago da questão. No entanto, quando não está em funções, pode servir de lustroso penduricalho e facilmente substituir o terço na sua habitual posição no espelho frontal de qualquer viatura. O perigo é esquecermos, como habitual, o âmago da questão e nos centramos somente no acessório, na forma, no aspecto, se fica bem ou mal, se combina com o grupo, com a vizinhança, com aquele que vimos nas fuças duma celebridade qualquer, no pescoço do nosso artista preferido, dum pateta qualquer que esqueceu, certamente, o âmago da questão. Porque nos vestimos? Porque usamos este ou outro acessório? Afinal para quê nos preocuparmos com o âmago da questão se tudo é efémero e acessório. #EuQueroVoltarAntesQueEnlouquecaDeVez #VaiFicarTudoBem

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