Covid dia 44

Penso que nunca tanto tinha observado as janelas da vizinhança. A senhora que, no quinto andar do prédio em frente, todos os dias, senta-se, na sua pequena marquise, a ler um livro. No sábado, estive um bocado à conversa com o vizinho do terceiro andar do prédio ao lado. De manhã, existe um velhote com dois velhos pequenos cães que se senta na laje de mármore, no esquina do jardim e ali fica com eles. Conheço a maioria só de vista, de nos cruzarmos nas arcadas dos prédios, na rua quando vamos colocar o lixo ou comprar alguma coisa. Não sei quem são ou o que fazem. Sei quem mora no meu prédio, mas pouco mais que isso, alguma coisa do prédio ao lado e nada mais. Tenho saudade do Sr. Vitor dos jornais. Fechou o quiosque ainda antes da pandemia e nunca mais soube dele. Conto que esteja bem. Fiz uma assinatura digital do Público mas não é a mesma coisa: não me desloco para comprar, não escuto os bons e os maus momentos do Sr. Vitor, não compro o pão na padaria da Rita, não sujo as mãos de tinta e não tenho o cheiro do papel, o saboroso desfolhar. Passaram quarenta e quatro dias, estamos a vinte e oito de Abril. Bom dia para todos. #EuQueroVoltar #VaiFicarTudoBem

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