Foi
Devíamos arrancar-lhes as asas logo quando nascem. Estúpidos somos quando cuidamos que cresçam bonitas, saudáveis e bem grandes para que não tenham dificuldades em voar. Devíamos cortá-las logo, bem rente, aparar sempre que uma pontinha voltasse a aparecer, não deixar sequer saberem que têm asas. Nada aprendemos com os excelentes ditadores que este mundo tem gerado: o segredo está na ignorância; deixá-los bem agarradinhos a nós, com fronteiras bem definidas, curtas; não os deixar ver para lá dos muros. O mal é esse: não há muros, têm asas, são livres, podem voar, querem voar. Que podemos nós fazer senão verter uma lágrima e sorrir. Conter o nó na garganta; sentirmos a alegria; darmos as mãos; avançar. Paradoxal esta alegria que sentimos vendo-os voar, de asas bem abertas, lindas, lindíssimas, livres, decididos. Sentimos bem dentro o significado do hábito não fazer o monge, de cada etapa ser uma nova etapa. Nada se repete, para lá da aparência. E agora o que fazemos ao ninho? Às penas que deixaram, à sua presença ausente? Amanhã será outro dia na certeza que, daqui a pouco, estaremos novamente juntos, algures no mundo, na sua casa.
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