Maluca

Como poderia viver sem ti, meu amor? Sem me dizeres para virar, quando eu já o estou a fazer; antecipares aquilo que eu já antecipei; a dizeres-me o que eu já antes sabia. Como é que eu vivia sem ti, meu amor; sem ti como é que conseguia respirar, dar um passo, decidir seja o que for?
Como poderia não me ter cruzado contigo, não ter a tua mão (porque outra não seria a tua) sempre que dela necessito - e são muitas essas vezes. Viver sem ti para me recordares o que aconteceu e não mais lembro, recordares algo que para mim não aconteceu mas que tornas real uma vez mais, acordares as memórias perdidas no nevoeiro ou na clara luz do sol.
Nesta vida, encontrei muitos doidos mas uma só maluca. Só alguns terão igual fortuna; só eu continuo a duvidar que a tal sorte tenha direito. Só uma; uma maluca que se apaixona por nós, que junta as nossas pontas e nos faz sentir afortunados, que está ali ao nosso lado, sempre ao nosso lado. Só uma maluca que um dia presente o nosso silêncio e nos obriga a falar com um anjo louco que nos abre as asas, que nos areja as penas, que nos repara a alma, que nos acompanha no funeral do silêncio, no apaziguar da raiva. Como o podia fazer sem ti, meu amor? Porque me conheces, porque só tu me conheces. Como poderia viver sem o teu calor, meu amor, sem alguém que gerou comigo dois maravilhosos seres, dois príncipes deste mundo e de novos mundos? O que faríamos sem ti, meu amor, sem alguém que acredita em tudo o que dizemos, que sabemos estar lá para nós e nós por ti?
Dá-me um beijo, meu amor; contigo parece fácil fazer o que temos feito. O que seria de mim se o teu beijo não tivesse cortado a minha incerteza, se a minha mão não se tivesse agarrado a ti. Podemos ter começado somente por nos salvar mas muito aconteceu depois, novos caminhos encontrámos, outros ventos empurraram as nossas velas, em algumas soprámos nós. A alguns lugares aportámos, outros ajudámos a erguer, alguns mais virão. Só peço que me deixes continuar a caminhar a teu lado e que eu seja merecedor da tua mão.

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