Humores de Verão
Hoje a praia não nos quer por perto. Sopra com força, empurra-nos para fora; fartou-se de nós, das montanhas de gentes a pisar-lhe o peito, o ventre, as ancas, os braços. Só os homens alados têm visto de passagem, podem atravessar mas logo se deverão elevar, lá bem no alto, suspensos no ar, ao sabor dos deuses, de acordo com os desejos de Éolo. É ele que cuida dela, que nos sopra para longe, para fora do areal. Está atento aos seus humores, ao amor que tem por ela, ao que os une meses a fio, quando o tempo e o espaço são só deles, quando somente as nuvens, o oceano e a chuva os podem importunar. Observamos de longe, resguardados, escondidos, até que Éolo nos presente e nos volta a pedir que nos afastemos, que deixemos a sua amada descansar, somente protegida por ele e pelos poucos candidatos a Ícaros. Voltamos a casa, resguardamos-nos, na esperança que amanhã, ela e ele, nos queiram, novamente, receber.
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