Inquietude
O tempo está indecente, trai-me a cada momento, amachuca-me. Leva o pouco que tenho; é um constante adiar sem a certeza de amanhã cá estar. Rouba-me o pouco que resta para os mil anos de estórias por contar, por escrever. Não sinto falta das letras, palavras ou frases; da página em branco, semi-preenchida ou completa; da poesia ou da prosa. Faz-me falta a gestação, o sentir dentro de mim, o parto, o gerar, o surgir do nada. O pairar, levado, sem controlo. A procura do dizer sem dizer, da beleza atrás do véu. A busca da forma, o espanto, principalmente o espanto; o encanto, o inesperado que, mal sai, deixa de ser nosso. Um filho que encontra o seu caminho e nos deixa boquiabertos com a sua independência. O estar ali, deliciados, ao lado dele, dormindo, e saber que já não é nosso, que apenas podemos cuidar, para sempre, que esteja bem; o largar um pouco mais à frente e ficar a observar, a escutar, de longe, deslumbrado, o seu partir.
Sonho voltar a ter o tédio dos tempos de juventude. Não quero mais cabelo ou este voltar a ser escuro; não quero voltar atrás mesmo que um segundo. Quero apenas remar, mesmo que em seco, desde que seja com tempo e vagar, saboreando o ar fresco, a brisa do mar. Alimentar a alma com espanto, com descoberta, exercer o direito ao privilégio de nada fazer, completamente parado, no máximo do atrito e da inércia. Todos os sistemas tendem para um estado de equilíbrio, confortável. É para aí que quero ir, deixar a constante perturbação, as inúteis mudanças de estado, a oscilação em torno de nada. Procuro sair do desconforto, abandonar a inquietude, para bem longe da aceleração constante. Procuro o tempo em que o volte a ter para mim, mesmo sem saber se tal tempo algum dia virá. Sempre à espera do dia em que finalmente ele estará lá, novamente, para mim, na incerteza que tal acontecerá ou que eu ainda aqui esteja. Preciso escoar a dor, destilar o texto, imprimir o desassossego. Faz-me falta o tempo.
Sonho voltar a ter o tédio dos tempos de juventude. Não quero mais cabelo ou este voltar a ser escuro; não quero voltar atrás mesmo que um segundo. Quero apenas remar, mesmo que em seco, desde que seja com tempo e vagar, saboreando o ar fresco, a brisa do mar. Alimentar a alma com espanto, com descoberta, exercer o direito ao privilégio de nada fazer, completamente parado, no máximo do atrito e da inércia. Todos os sistemas tendem para um estado de equilíbrio, confortável. É para aí que quero ir, deixar a constante perturbação, as inúteis mudanças de estado, a oscilação em torno de nada. Procuro sair do desconforto, abandonar a inquietude, para bem longe da aceleração constante. Procuro o tempo em que o volte a ter para mim, mesmo sem saber se tal tempo algum dia virá. Sempre à espera do dia em que finalmente ele estará lá, novamente, para mim, na incerteza que tal acontecerá ou que eu ainda aqui esteja. Preciso escoar a dor, destilar o texto, imprimir o desassossego. Faz-me falta o tempo.
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