O anel da memória

Paz: nada mais; um anel de memórias; uma fina e indelével linha que está entre ela e os campos da selvajaria. Um circulo imperfeito, frágil, em suspensão, que queremos mas não podemos ignorar, que sabemos poder quebrar-se a qualquer momento. Entramos e somos invadidos pelo vazio, pela evidência, pelo clamor silencioso, pelo enorme respeito pelos nomes daqueles milhares de homens que, de ambos os lados, sentiram o anel a quebrar, foram empurrados para o abismo, pereceram na guerra.
Felizes por estarmos juntos, custa-nos acreditar no que sabemos ter acontecido, na lama e ruínas de outrora, no inconcebível, numa irrealidade que ali bem presente esteve, diversas vezes.
Lá do alto o António sorri aos netos e bisnetos, fica contente por ali terem ido, cem anos depois, por percorrem os campos da sua batalha, da sua e de outras guerras, as terras, as praias, agora belas, onde ele e os seus companheiros de armas encontraram o inferno, onde muitos ficaram para sempre.
Fecha-se um circulo das memórias, daquelas que, consciente ou não, passam através das gerações, que garantem a eternidade de cada um de nós, que nos obrigam a recordar, a olhar para o passado e querer manter intacto o anel da paz, o fundamental da memória: o não esquecer; o clamor dos mortos para que não se repita.

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