Até já

São dias de pressas e calmarias, um misto de apreensão e calma; de várias etapas; de lugares novos, outros nem tanto; de incertezas e confirmações; de algum cansaço. Uma vela em Santa Teresa, outra para São Jorge: fica protegida. O hábito faz o monge e nós já passámos por outras provas, já conhecemos estes passos, as escadas, as várias passagens, as estações desta via sacra. Saber alivia o peso, não evita a apreensão, torna o caminho mais simples, as decisões mais rápidas, deixa tempo para estarmos. Durante umas horas, entramos noutra dimensão, outros cheiros, ares e gentes. São muitos: faz calor; acotovelam-se nas estreitas ruas, nas centenas de restaurantes, cafés e lojas (tendas para eles; na verdade, uma enorme feira de vaidades e não só). Procuramos o que precisa para, uma vez mais, transformar o espaço, torná-lo seu, criar os laços de conforto, dar-lhe os cheiros, cores e formas que a identificam. É rápida na escolha, na metamorfose; logo diz que já está, que mais tarde acabará, que pudemos ir visitar a cidade, juntos partilhar o novo espaço.
Recuamos, procuramos perceber como chegámos aqui, qual o caminho que nos levou onde nunca imaginariamos, onde não poderíamos imaginar; alcançar o que nem inalcançável era, porque não fazia parte; chegar onde, afinal, sem o sabermos, sabíamos que queríamos chegar. Olhamos para ela e sabemos que assim é; pensamos nele e nenhuma incerteza subsiste.
O que tardava em passar, agora escoa-se entre os dedos. Juntos olhamos as águas do porto, os brancos navios, o grito das gaivotas, retardamos o tempo. Mais algumas compras, mais alguns mimos, uns últimos retoques e partimos. Sentimos o adeus, o até já, na certeza do reencontro, lá para o natal.

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