Doce inversão

Passam os tempos, mantêm-se as vontades, encontramos novos (belos) lugares, mudam os papéis: eles assumem os nossos; nós os daqueles que não estão. São tempos de inversão. Por enquanto, vamos na dianteira, ainda aguardam o nosso sinal, a nossa direcção, esperam ser guiados, tentam alguns caminhos a sós. Daqui a uns anos passaremos para o banco de trás, esperando que nos levem, que nos guiem, que sejam o nosso amparo. É o espantoso correr dos dias, a passagem do tempo, a mutação que só nos apercebemos quando paramos um pouco para escutar e olhar em volta, realizar que a pequena crisálida virou uma lindíssima borboleta, que traz um jovem com ela, que o pássaro maior está (muito) feliz lá no frio do norte.
Aqui, neste pequeno paraíso, está quente, mais que o esperado. Este ano é assim, dizem os sábios. Só não nos avisaram que os casulos iriam abrir e as borboletas voar. Estando, não estamos preparados. Não estando, doutro modo não queríamos que fosse.
Olho o imenso rio azul, um oceano de águas calmas, a luz do sol acariciando a negra serra por trás. Nasci para viver perto da água, flutuar na sua superfície, escutar o murmurar das sereias, o uivar dos lobos do mar, ver os casulos abrirem, as gaivotas voar.
As pessoas vêm e vão ao sabor das partidas do catamarã verde água. Risca a branco o azul do rio, liga a espaços regulares, as duas margens. Também pensarão nas suas borboletas, cuidarão dos seus casulos.
Lentamente escurece, na certeza que amanhã de novo será dia, que o calor voltará, que a nossa borboleta por aqui ainda estará (rindo), que o nosso zângão continuará feliz.

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