P’ra sempre
"Nunca mais", um dia disse ele, num incompleto e inconsequente acto melodramático. Provado ficou o contrário sentido do seu dizer: nunca mais a deixou, aquele amor de juventude para sempre ficou.
E ela disse: “vocês saem aqui”, sem consciência que tal não era possível. E os dois juraram que para sempre seria e a todos, frente ao Tejo, convidaram para serem suas testemunhas. Juntos continuam; nós ficámos ali, naquele dia, naquela rotunda, mas só naquele dia; aqui nos mantemos, teimosamente. Atrás deles fomos e assim os temos seguido neste seu caminho; não mais saímos das suas vidas. Longe ou perto, sempre temos estado e assim estaremos.
Ela era uma menina; ele pouco mais que um rapaz. Inocentes se conheceram; novos nos cruzámos; jovens partilhámos as incertezas da vida, a eternidade da juventude, a construção do futuro, os sorrisos inocentes, os sonhos. A universidade foi terreno de namoro, de amizade; ali construímos o resto dos nossos dias. Belos os tempos em que juntos percorríamos o país, nos nossos potentes bólides - pequenas caixas de alegria sobre rodas - zumbindo até aos cento e vinte. Que belas eram aquelas inocentes travessias, os sorrisos, as certas incertezas. As viagens continuaram a marcar o seu percurso. Cruzam os céus, cruzam as nuvens, vivem os sonhos, percorrem o globo. Desde terras do ocidente até às vastas terras do sol nascente, procuraram o exótico, o luxo, a paz e a felicidade. Das Américas, à grande China, quão mais longe melhor; se naves houvesse, o universo cruzariam em busca da eterna felicidade.
Os nossos filhos foram sua inspiração: campo de livre experimentação; fonte de desejo. Da sua persistência, querer e dor, nasceram os seus infantes, duma vez só, tão diferentes, tão iguais. E agora que eles têm a idade que nós tínhamos, cabe-nos recomeçar uma vez mais, subtilmente acompanhá-los, continuar a dar-lhes sustento, base, um porto seguro, vê-los rirem nos seus bólides, namorarem nas suas universidades; sentir os papéis a inverterem-se, até voltarmos a ser só nós e a nova juventude, por nós criada, tome conta do presente.
Lisboa, Setembro de 2015
(dedicado a dois amigos que agora completam 25 anos de união)
E ela disse: “vocês saem aqui”, sem consciência que tal não era possível. E os dois juraram que para sempre seria e a todos, frente ao Tejo, convidaram para serem suas testemunhas. Juntos continuam; nós ficámos ali, naquele dia, naquela rotunda, mas só naquele dia; aqui nos mantemos, teimosamente. Atrás deles fomos e assim os temos seguido neste seu caminho; não mais saímos das suas vidas. Longe ou perto, sempre temos estado e assim estaremos.
Ela era uma menina; ele pouco mais que um rapaz. Inocentes se conheceram; novos nos cruzámos; jovens partilhámos as incertezas da vida, a eternidade da juventude, a construção do futuro, os sorrisos inocentes, os sonhos. A universidade foi terreno de namoro, de amizade; ali construímos o resto dos nossos dias. Belos os tempos em que juntos percorríamos o país, nos nossos potentes bólides - pequenas caixas de alegria sobre rodas - zumbindo até aos cento e vinte. Que belas eram aquelas inocentes travessias, os sorrisos, as certas incertezas. As viagens continuaram a marcar o seu percurso. Cruzam os céus, cruzam as nuvens, vivem os sonhos, percorrem o globo. Desde terras do ocidente até às vastas terras do sol nascente, procuraram o exótico, o luxo, a paz e a felicidade. Das Américas, à grande China, quão mais longe melhor; se naves houvesse, o universo cruzariam em busca da eterna felicidade.
Os nossos filhos foram sua inspiração: campo de livre experimentação; fonte de desejo. Da sua persistência, querer e dor, nasceram os seus infantes, duma vez só, tão diferentes, tão iguais. E agora que eles têm a idade que nós tínhamos, cabe-nos recomeçar uma vez mais, subtilmente acompanhá-los, continuar a dar-lhes sustento, base, um porto seguro, vê-los rirem nos seus bólides, namorarem nas suas universidades; sentir os papéis a inverterem-se, até voltarmos a ser só nós e a nova juventude, por nós criada, tome conta do presente.
Lisboa, Setembro de 2015
(dedicado a dois amigos que agora completam 25 anos de união)
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