Viagem em Bando
Inóspitas Ilhas da Amizade
Viagem em Bando
Porque não?
Dia primeiro
{Lisboa, Zagreb}
Ainda mal sabem quem são mas já sentem que pertencem a um mesmo bando, ao
seu bando. De madrugada chegam ao porto aéreo - em terra firme, aberta para o
infinito. A noite é sua companheira; a multidão aguarda-os, em fila - a mesma
que eles percorrem na ansiedade de continuarem: não esperavam tantos; depressa
deixaram de o ser. O avião aquecia os motores, queria voar, cruzar os escassos
flocos brancos sob fundo azul, planar até ao destino, muito antes pensado. A
cidade recebe-os num abraço, bom, quente, refrescante de quando em vez. É
pequena e bela, deixa-se visitar em menos de nada. Santo António coloca a mão
sobre as suas cabeças; garante a necessária protecção. As desconhecidas ruas e
casas passam por eles. As horas voam e o dia, mais longo, veste-se de noite; o
cansaço vence os guerreiros; é hora de comer, de permitir ao corpo descansar.
Estranham os sabores e mais se surpreendem com o homem que acende, na praça, os
candeeiros a gás - estranho recuo a um passado que não é deles mas que existe:
oxalá perdure. Vencidos os últimos metros, retiram-se para o seu palácio de
altos muros, moderno mobiliário, paredes brancas e negras - divinamente
grafitadas. Preparam a jornada seguinte e descansam.
Segunda Jornada
{Zagreb}
A cidade acordou bonita, com um leve e fresco vestido de verão. Na mesa
grande, branca, sob fundo negro - memória de outros tempos, da escola -, uma
vez mais, o bando junta-se, em torno dum pequeno-almoço: cereais, leite, pão,
compota, manteiga, uvas, framboesas e muito mais - um festim matinal. Depois do
café, em esplanada a preceito, partem para o desconhecido, guiados pela voz que
saí da pequena caixinha. A primeira paragem - acabada, como todas as outras,
num já familiar ovac -, falhou em beleza mas compensou em sabor (grelhado à
beira rio com vista para a outra margem). Seguem, procurando o prometido banho
no rio, as águas bravas correndo. Passam a ser os miúdos que nunca abandonaram
e a quem voltam sempre que lhes é permitido. Estes são dias grandes para todos
eles: que acabam depressa mas nunca mais acabam; dias em que as horas têm a
correcta dimensão; em que cada segundo é eterno; em que o pulsar do tempo tem
outro sentido. Quando os astros não se alinham, resta-lhes pedir uns quantos
emprestados e, juntos, sem régua, traçar uma linha imaginária entre eles. Por
fim, adormecem, nas casas de madeira, embalados pelo silêncio dos grilos.
Terceira Jornada
{Plitvite, Vinjerac}
Cinzenta acordou a manhã. Nublados despertaram os sentidos. Furados ficaram
todos os planos. A furiosa manhã não cedeu e o passeio nos lagos de montanha,
passou a um reconciliador mergulho, numa pacata enseada adriática. A triste
manhã deu lugar a uma calorosa tarde, a um retemperador pôr de sol, a um saboroso
e divertido jantar. A tempestade deu lugar à bonança; o desapontamento foi
superado pela surpresa do lugar. Vencidos pela beleza, pela paz, deixam-se
ficar até o sono os levar.
Quarta Jornada
{Vinjerac, Krka, Vinjerac}
Calma acordou a manhã; nada melhor que uma noite para o mau humor temporal
ficar lá para trás. Sem maré, o mar interior assemelha-se a um enorme lago de
águas lisas, transparentes. Lindo o horizonte; maravilhoso o lugar, as gentes,
o pequeno mercado. O sol morno abre a porta à contemplação; sabe bem a
brisa da manhã. O Adriático dá os primeiros ares da sua graça divina; nem ar,
nem mar, atrevem-se a mexer uma gota que seja, a importunar os deuses, a
quebrar o silêncio. O pão quente e o café sabem ao melhor dos manjares. Uma
figueira espreita entre telhados vermelhos, ocre, lembrando outras paragens do
sul. Faltam somente a rapariga e o jovem pescador, apaixonados, para completar
o perfeito cenário para uma história de jovens aventureiros.
O bando volta à estrada. As amizades são electivas, e esta foi a eleita
para este verão: um bando procurando a calma dos mares profundos, uma boa
companhia. Uns quilómetros de autoestrada e mergulham no verde-escuro do
parque, nas suas águas cristalinas. Percorrem o trilho, absorvem a paz somente
interrompida pelas centenas de outros visitantes. Regressam de barco ao ponto
de partida, deixando-se encantar pela pacata vila de pescadores.
Antecipando a grande aventura marítima, procuram a marina que no dia
seguinte os há-de receber e de onde partirão. Mostra-se difícil de conhecer,
escondida atrás duma velha aldeia. Orientados, procuram onde comer. Encetam um
pequeno regresso à comida rápida: não mais que um pequeno deslize, um desvario
momentâneo; não repetível.
Ao coberto do negro da noite, numa linha pouco recta, regressam ao seu
pequeno porto de abrigo, à sua enseada. Bebem um último gole, secam mais umas
quantas lágrimas caídas do céu e recolhem-se, preparando mais uma etapa, rumo
aos mares.
Quinta Jornada, Primeira de Navegação
Cedo, despediram-se da baia, do pequeno porto. Mais uma vez partiram.
Rápido chegaram à marina, deixando os pertences, por umas horas, entregues ao
quase acaso; mais um pulo, mais uma viagem e encontram o ponto de retorno.
Largadas as viaturas, o transporte passou a ter forma de autocarro, a típica
fila de verão fez a sua aparição, a incerteza quebrou a acalmia destes dias.
Separaram-se para garantir o retorno. A mentira virou realidade; a graça deixou
de a ter; da camioneta foram enxotados; da sua tiveram que esperar. Coisa
pouca, nada que a paciência, a boa disposição e um banho no azul Adriático não
cure. Abastecidos, ocuparam a sua casca de noz flutuante, nova barca por uns
dias. Sentiram, pela primeira vez, o leve baloiçar da mãe natureza, um primeiro
banho de mar, a calma duma saborosa refeição, partilhada a bordo, rodeados pelo
escuro da noite e por uns incómodos vizinhos que não deveriam fazer parte desta
história. Retiram-se para os seus pequenos aposentos, felizes por estarem ali.
Sexta Jornada, Segundo dia no mar
A noite dependeu da capacidade de absorção, por cada um, do balanço
marítimo. Levantam-se cedo, procurando alongar o belo, a calma destes dias.
Azul, salpicado de verde, é tudo o que os rodeia. Partem para a primeira
travessia do dia - atingir uma enseada, perto de Sali, a meio caminho do
extremo norte de Dugi Otok, a longa ilha. Banhos tomados, almoço cuidadosamente
preparado e degustado, partem, sem ponta de raiva, para o porto de Rava.
Percorrem, a pé, a pequena ilha. Encanta-os a ilha dos carros sem matrícula, a
paisagem a lembrar outros Algarves. Ali partilham uma refeição mais; permanecem
até que a noite se torne novamente dia.
Sétimo dia (e não descansaram),
Terceira Jornada Marítima
{Dugi Otok}
Metade já lá vai. A manhã desperta quente, o sol pica a pele. O verde-escuro
de Dugi Otok espreita do outro lado da margem. Pequeno-almoço tomado, motor
ligado e estão novamente a navegar. Procuram um lugar onde possam reabastecer a
pequena dispensa com um mínimo de saborosos prazeres. Primeira paragem,
debalde. Na segunda, avistam uma porta aberta, encimada pela placa dos
correios: a palavra "posta" sobre fundo amarelo; bom sinal. A venda
situa-se debaixo, a estação dos correios no andar de cima, com acesso, manhoso,
semiescondido, nas traseiras. A estação é, igualmente, "caixa
multibanco", semi-humana: simples e eficaz; uma delicia. Graças a Deus
ainda existem lugares assim. Comprados os mantimentos e reforçadas as
carteiras, com mais algumas kunas, regressam ao veleiro. Próxima paragem: enseada
das cigarras cantadeiras - um sonoro manjar. Banho nas águas cristalinas,
silêncio somente cortado pelas, já citadas, cigarras e pelas gargalhadas de
todos os convivas. As brincadeiras, somente, interrompidas por mais um leve
banquete preparado por deuses e sereias. Que mais podemos querer neste nossa
passagem terrena? Porque não viver sempre assim? As cigarras mantêm o seu chilrear;
o sol, lá no alto, aquece-as cá em baixo. Que mais precisam? Afinal, existimos
para bem mais que simplesmente preservarmos a espécie.
A tarde passou procurando o vento, velejando, mergulhando no morno
Adriático. O vento sul fez-se rogado mas finalmente deu ares da sua graça e
empurrou as velas. Um longo círculo aquático e o regresso à mesma enseada onde
resolvem montar tenda e ali pernoitarem. Terminam o dia testando o bom e o mau
perder, numa deliciosa partida de trinómios.
Dia Oito, Quarto de Navegação
{Zadar}
A noite calma deu lugar a um leve ondular; abanados perceberam que um novo
dia nascia. Despertaram para mais um café da manhã no paraíso. Cedo zarparam,
para trás ficou a enseada, seu berço por esta noite. O mar aberto é novamente o
seu chão; o fresco da manhã obriga-os a procurarem o aconchego da cabine, a
proximidade do seu bando. À vista de Zadar, o sol encontra o seu caminho entre
as nuvens; os corpos agradecem o tímido calor; começam a sair da toca. O bando
divide-se: uns partem, em duas rodas, a caminho da praia prometida, do vento,
da aventura na estrada; outros ficam, procuram a cidade e as suas ruelas, o
encanto do órgão do mar. Zadar não é a princesa do Adriático mas tem os seus
encantos. O porto borbulha de actividade: os turistas juntam os seus bandos nas
mesmas praças, nas ruelas, no passeio junto ao mar; as gentes locais tentam
vender, angariar o sustento para mais um ano.
Os aventureiros regressam nas suas montadas, felizes, divididos entre o
encanto e desencanto, da praia de Nin. Ao fim da tarde, são, de novo, um só
bando, em busca do merecido jantar, após um banho, em terra firme, com água
quente, abundante. Nunca um banho, num balneário público, foi tão sofregamente absorvido.
Uma casa de banho larga, barbas feitas e águas correntes, foram sentidas como
uma dádiva dos deuses. Recompostos, percorrem a ponte, as ruelas, o passeio
marítimo dos tristes, alegres por estarem ali, por estarem juntos.
Reabastecidos, cansados, recolhem-se, sabendo que uma nova jornada começará
logo que o sol se erga.
Quinto de Navegação, Nono de paz
“Why Not”, o Navegador, marca a hora do despertar - os estridentes
despertadores electrónicos (ou mesmo mecânicos) aqui não têm qualquer
utilidade, arrumados ficaram. Umas boas passadas no convés, sobre as suas
cabeças, e bem despertos ficam, com vontade de ver o novo dia. Bem cedo, quando
o ponteiro pequeno aponta entre as seis e as sete, aparecem - uns por portas,
outros por alçapões -, sem protestar, somente esboçando um sorriso, saudando os
restantes membros do bando, com um sonoro “bom dia”: o brilho nos olhos, os
comentários sobre a passagem da noite, são bastante para saberem que estão bem.
O cansaço instala-se mas a vontade de continuar é muito maior. Sempre em
frente, deixam Zadar para trás; a cidade já sente saudades deles. O mar azul é
novamente a sua estrada - uma larga avenida, ladeada por ilhas, banhadas por um
sol radioso. Apontam a proa a oeste; navegam umas boas milhas marítimas;
procuram um bom local para banhos, para o almoço ao fim da manhã. Aproveitam o
sol e o retemperador vento; deixam-se embalar ao som dos motores, do casco
rasgando as águas; dos espaçados salpicos.
Mais uns banhos (a água um tudo de nada mais fria que o normal), um fausto
repasto e regressam à estrada aquática. Próximo destino: parque de Telascica,
do outro lado da ilha, a sudoeste de Dugi Otok. A travessia apela à
contemplação, ao silêncio, ao recolhimento: cada um procura o seu canto, na
vasta embarcação, e medita por uns momentos.
A lagoa salgada esperava por eles; conseguiu surpreender. No parque, o
trilho foi o seu guia, por uma tarde, as pedras o seu altar. Volta completa ao
lago, mergulho, para uns quantos, no caldo salgado, e regressam ao seu refúgio,
no meio da enseada. Rapidamente habituam-se ao isolamento, à ausência de ruído,
à escuridão salpicada, somente, por pequenos pontos luminosos, ao longe, no
infinito mar, no céu. O negro rodeia-os, progressivamente, cortado, ao longe,
por relâmpagos. A dúvida sobre o tempo ocupa um pequeno canto das suas mentes.
Antes de se deitarem, para mais uma noite flutuante (esta, com o adicional de
rotação em torno da bóia), juntam-se à volta de sequências e trios na busca do
onze sagrado, e do sono.
Dia seis a navegar, Décima Jornada
Primeiro de Caminhada mais séria
{Parque de Kornat / Mar Aberto}
Os dias passam depressa; o fim adivinha-se; fazem tudo para o afastar. A
noite passou, menos fácil que o habitual. A translação, em torno dum eixo
central, afectou algumas gaivotas. Nada que uma boa lufada de vento, na proa da
embarcação, não cure. Apercebem-se que, afinal, a beleza do lugar é a
inexistência de belo, as terras áridas, o imenso mar, o silêncio, o espaço
vazio, o deserto inóspito, a simplicidade da paisagem, o comprar pão e outros
mantimentos dum supermercado flutuante: um assobio e ali está ele com tudo o
que é necessário. Para trás ficou a lenda do fantasma carbonizado, da alma do
bombeiro que por ali teima em aparecer.
Avançam mar adentro para mais uma travessia, a caminho dum outro
ancoradouro, duma nova paragem. Lançam âncora numa larga enseada, sob uma
encosta agreste, quase lunar, pedras e mais pedras, giestas e silvas. Sobem a
encosta, quais cabras de monte, conquistando o privilégio de verem do alto uma
das mais belas, inundadas e inóspitas paisagens do planeta. Sentem-se pequenos
conquistadores dum novo mundo, até aqui desconhecido. Almoço delicioso,
incluindo requentadas almôndegas do dia anterior. Até o Navegador lambeu os
dedos, repetiu, deliciou-se: porque não?
Novamente a navegar, entram em mar aberto, vislumbram a mãe Croácia na
rocha desenhada, a coroa do reino, esculpida na branca rocha escarpada, que,
diz a lenda, deu nome a este belo país. Umas quantas milhas náuticas cumpridas e
fundeiam em uma nova e calma enseada, num novo parque nacional. Experimentam as
borras dum café turco, caminham entre arvoredos e aventuram-se no bote,
enquanto a gaivota tresmalhada sobe ao cume do monte - precisa das alturas; de
gastar alguma da energia acumulada.
Não corre brisa alguma; fim de tarde perfeito: os relâmpagos, atrás dos
montes, são pronúncio de algo diferente. A noite transformada em tempestade:
acalmia vira ventania, a temperatura desce, o jogo tem que esperar. A natureza
lembra a sua presença, remete-os para o seu lugar enquanto simples hóspedes
deste mundo. Mesmo numa terra inóspita, esculpida pela mão humana ao longo de
séculos, a natureza, quando quer, é sempre superior. Perguntam se a embarcação
está protegida; o Navegador responde, calmamente, que não; ficam menos
descansados mas continuam a rir, felizes, deslumbrados com o espectáculo
oferecido pelos deuses. A natureza quis assinalar a presença, por estas terras,
de tão respeitado bando, com um esplendoroso fogo-de-artifício celestial.
Durante largo tempo, os céus iluminaram-se de raios, o vento e a agitação marítima
dizem presente, a temperatura desce. Mais uma vez a bonança cedeu lugar à
tempestade para mais adiante permitir o regresso da primeira. Logo deu sinais
de ter passado por eles, logo a adrenalina baixou, o marinheiro em cuecas
recolheu-se, o pequeno susto virou espanto, encantamento, coisa nunca vista.
Acalmou, sossegaram. Trios e sequências completos; todos para a cama que se faz
tarde.
Sétimo no mar
Décima Primeira Jornada no reino da Croácia
{Kornati, Sibenik}
A noite foi um teste para eles e para o experimentado Navegador. Nada de
mais aconteceu, um novo dia nasceu, esplendoroso como os anteriores. Café
tomado, motores em marcha, rota traçada, todos à proa. Pouco mais de oito nós;
deslizam; velocidade perfeita. Navegar no enorme canal massaja a alma, banha o
corpo, salpica-o de energia para mais um ano. As Kornati despedem-se deles com
um árido sorriso e uma lágrima a um canto duma das suas quase desertas ilhas.
Rumam a sul, ao ponto de origem, ao seu último porto. Sentem, por uma derradeira
vez, a liberdade do vazio, a ignorância dos males do mundo, a solidão aparente:
limpar a mente ajuda a ganhar forças para um novo ano. O céu e o mar são um contínuo,
somente separados por uma fina linha, interrompido por ilhas e ilhéus.
Deslumbrados, escutam, de novo crianças, que Deus, quando finalmente terminou a
criação do mundo, sobrou-lhe algumas pedras. Não sabendo o que fazer com elas,
resolveu atirá-las para este mar, formando estas maravilhosas ilhas. Obra de
Deus ou do acaso é pouco relevante: são belas, enchem a alma de esperança, de
paz.
Paragem para banhos e repasto numa enseada na ilha de Zmajan. Aqui a
pequena praia é de seixos lisos, agradável para os pés. Nadam até lá e
entretêm-se a encher os bolsos dos calções com pequenas pedras lisas de várias
cores e feitios: querem levar consigo uma pequena parte deste paraíso.
O almoço acaba em festa e pescaria. Nesta última os peixes mordem,
finalmente; na primeira, os corpos libertam-se em loucas coreografias. Cozinhar
para um bando tem que se lhe diga: um quilo de arroz, dois pacotes de
esparguete, dois quilos de carne, saladas, boas frutas e pão quanto baste;
que nunca sobra. Um festim, todos os dias, na preparação e na degustação,
regado por Karlovacs e outras pomadas Croacianas, que este povo tem muito bons
produtos para nos presentear.
E a música, sempre presente, sempre respeitadora da boa vizinhança,
soltou-se, expandiu-se: por uns momentos a festa instalou-se, a alegria navegou
entre todos, incluindo os nossos estimados Navegador e Leitor. Até o Pescador
interrompeu a sua labuta e, com um enorme sorriso nos lábios, deu uns passos de
dança, não fosse dia de, esquecido mas a bom tempo relembrado, aniversário.
Um banho mais, o último, e partem felizes para a derradeira travessia
nestes mares. Antes de aportarem a Sibenick, fazem uma derradeira paragem para
reabastecimento, na estação de serviço marítimo mais próxima: uma derradeira
novidade antes do poiso final.
Banho quente, abundante, faustoso jantar e baile final no porto, com música
dos anos sessenta, antes de recolherem-se, por uma última vez, nos seus
abrigos, nas suas cabines. Sente-se no ar a tristeza do fim, a alegria daqui
terem chegado, de tudo aquilo que viveram nestes dias. Começaram como um
incerto bando; acabam esta travessia como bons amigos; cúmplices dum imenso mar
de boas recordações.
Décima Segunda Jornada no reino da Croácia
{Sibenik, Split Aerogare, Costa Norte, Zagreb}
A manhã nasce solarenga; mais quente que o habitual. O pessoal continua
animado. A marina tem uma vida própria, interessante. Dezenas, senão centenas
de embarcações acordam. Circula-se de toalha ao ombro e chinelos, a caminho da
"toilete". Sabe bem uma casa de banho a sério, em terra firme, depois
dalguns dias no mar salgado.
Pequeno-almoço tomado a bordo e eis que as duas gaivotas condutoras partem,
de mão dada, em busca das suas novas {a mal dizer} carroças motorizadas. Fácil
foi o trajecto, linda a paisagem da costa Dalmatina, breve a paragem em Trogir.
Os pequenos coches aguardavam. A paisagem deixa-se novamente atravessar,
deslumbrante. O restante bando, depois de visitada a vila de Sibenick, espera
por eles, querendo partir. [Neste ponto, caro leitor, é importante que relembre
a quarta jornada. Nunca digas que: desta água não mais beberei; este hambúrguer
jamais comerei.] Afinal voltaram onde prometeram não voltar; a carne moída,
prensada entre duas metades de pão, foi novamente a sua refeição. Quebraram a
promessa; o relógio a tal obrigou.
Arrumados nas suas carroças rumaram a norte, pela estrada litoral: melhor opção
não poderia ter sido tomada. A tempestade aguardava por eles mas logo recuou, o
sol reapareceu. Paisagens de filme inundaram os seus olhos ao longo de quilómetros
de estrada marginal; por ali queriam ficar; novamente o vazio, o simples e o
inóspito marcaram presença. Quando a noite começava a ganhar ao dia, viraram à
direita, atravessaram a montanha e avançaram rápido (menos do que gostariam) de
volta à capital. Uma simpática menina estava à sua espera, mostrou-lhes o
maravilhoso abrigo para essa noite e despediu-se. Uma última refeição ligeira,
um último olhar pela cidade e o sono, de novo, tomou o seu lugar.
Dia Treze e último
{Zagreb, Lisboa}
Acordaram com o zigzag montanhoso ainda bem presente nos corpos e nas
mentes. O abrigo era merecedor de mais uns dias, mais umas noites, mas mais não
havia. A cidade atravessaram-na quase sem a ver, sem a cheirar, sem a sentir. O
aeroplano aguardava-os, pronto para os trazer de volta, para cumprir a difícil
e derradeira missão, para os retirar do paraíso. Despediram-se sabendo,
prometendo, que em breve estarão, novamente, juntos. Uns mais cedo que outros,
todos querem recordar estes dias e, em conjunto, criar novas memórias.
Sabias que a Croácia é o meu País favorito depois de Portugal? E que já lá fui 3 vezes? Uma de veleiro, outra a fazer trekking e outra de carro? As pessoas sao extraordinarias, a cor do adriatico e a transparencia sao únicas, a comida deliciosa, é o único País onde cada vez que lá vou, faco amigos. Que bom que tenhas gostado!!
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