Uma vez mais

Fomos, uma vez mais: o mesmo rito, a mesma prestação do culto milenar de recordar os que partiram; estar com quem nos faz uma falta do caraças.
Este ano o ritual foi alargado ao Alto de São João e a Benfica, mas foi diferente: faltou a saudável confusão dos outros anos, o rebuliço, o não encontrar um mísero buraco para deixar o carro. O feriado que já não o é; o pessoal que esqueceu os seus mortos; eu que já não sou quem era, sendo o mesmo. Habituei-me a gostar deste dia, a sentir a emoção de os visitar, de estar uma vez mais com eles.
Foi mais fácil, foi mais calmo; faltou a desordem doutros dias de finados; escaparam-se as multidões; venderam-se menos flores; as caixas amarelas atraíram menos moedas; foi mais simples guardar o carro. Tudo mais simples, mais fácil, mais rápido mas faltou tudo: o ruído da comunhão não compareceu.

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