Sonata em C Maior

https://www.youtube.com/watch?v=_VSYqFZk7KQ&feature=youtube_gdata_player

João era um homem especial. Se fosse português, seria Ribeiro, de apelido: João Sebastião Ribeiro, de seu nome completo; o grande Ribeiro, um rio de transparentes e puras águas, com múltiplas cores, texturas, forças e calmarias. Johann Sebastian Bach criou tanta e tão bela obra, que coloco em dúvida seja uma única entidade, um só homem.
Anos atrás tive o privilégio de ouvir, no grande auditório da Gulbenkian, Daniel Hope, ao violino, a interpretar o primeiro andamento (largo) da quarta sonata em C Maior, para violino e piano, de Bach (BWV 1017). Fiquei preso a tudo aquilo, rendido, hipnotizado. Procurei uma gravação, tinha que voltar a ouvir. De Daniel Hope, nada, não encontrei; as outras, longe estavam do que tinha podido sentir naquele fim de tarde, daquela delicada tristeza, daquele encanto. Finalmente, descobri Glenn Gould e Jaime Laredo numa maravilhosa interpretação de 1976. Novamente aquele mesmo choro, aquela mesma melancolia, aquele contacto com o divino, o tempo e a intensidade perfeitos. 
Keith Jarrret e Michelle Makarski gravaram recentemente as seis sonatas para piano e violino de Bach. Tinha que ouvir e comparar. Sabia que, certamente, era bom; não sabia se estaria ao mesmo nível sentimental de Hope, Gould e Laredo. É, claramente, uma diferente interpretação e só esse facto - o reconhecer as subtis diferenças no tempo e na intensidade - faz-me sentir criança, faz-me sentir maravilhado. Junta-se, ao encanto da obra, a mestria dos diferentes intérpretes, dos recreadores do belo. Não são iguais e ainda bem que não o são: agora tenho duas, igualmente excelentes mas diferentes, interpretações desta obra divina.

Comentários

  1. Muito bom, Alexandre. Nunca tinha pensado em Bach como "João Sebastião Ribeiro"! :)
    Obrigada pela partilha. A obra é magnífica e está interpretada de forma soberba.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário