Rei Lacis (Micro-Contos para Sical)
[1]
O Rei Lacis farejava-se ao espelho e sorria. Estava longe de
ser um homem formoso mas, percebia agora: tinha outros predicados. Recordava o
que o velho monarca, seu pai, sempre lhe dizia - nunca olhes o mundo dum só
ângulo. Finalmente tinha apreendido o alcance destas doutas palavras: que deslumbrante
aroma tinha o seu nome no espelho.
[2]
Lacis nunca gostou de estar sobre pressão. Sempre gostou
mais dum bom banho na tina de vidro, lentamente escorrendo, pingando, gota após
gota. Nunca entendeu as correrias modernas, tudo expresso, rápido, instantâneo.
Também nunca gostou delas curtas (com excepção para as italianas, espessas e
cremosas). Melhor só quando escaldam, uma brasa, uff!
[3]
Lacis nunca antes tinha estado longe de Racúça: sentia
profundamente o amargo daquela separação. Era robusto - descendia de grandes
guerreiros etíopes - mas tinha um enorme coração arábico: só se sentia
completo, só conseguiria debelar aquele amargo, junto do seu doce filho,
estando misturado com os seus.
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