Fim de Tarde
O tempo está a mudar. Ontem, ao fim do dia, algumas nuvens negras pairavam, ali ao longe, sobre a serra, Uma cortina negra vislumbrava-se lá para oeste, para os lados do oceano. Está mais fresco, sabe bem estar ao sol. Tomar banho passou a ser uma prova que só poucos conseguem superar. Este ano a água tem estado fria, fora das horas mais quentes do dia, é quase um castigo. Depois das quatro, cinco, quando gostamos de ir para a praia, entrar na água torna-se tarefa impossível de levar a cabo, principalmente para quem não tem muita ou quase nenhuma camada adiposa, como é o caso aqui presente. Umas braçadas na piscina, por volta da uma, e está feito o dia em termos de banhos de mar ou de piscina (tenho aqui que abrir este parêntesis para precisar algo que pode não ter ficado claro na frase anterior, para ser preciso e não enganar ninguém: não se tratam propriamente de braçadas tipo Michael Phelps, como imaginam, mas mais duns bruços mal amanhados, tipo nadar à cão. Feita a clarificação, retomemos onde íamos antes deste parêntesis). Na semana passada, tomava o banho de fim de dia, perto das oito, no regresso da praia. Agora não dá!
Aproveita-se para mergulhar no silêncio, olhar esta deslumbrante paisagem algarvia, campos de figueiras, alfarrobeiras, amendoeiras e oliveiras. Ali ao fundo, dois ou três marmeleiros. O resto é amarelo torrado pincelado, a espaços, pelo verde azeitona, por umas poucas casas brancas de telhado vermelho pálido e por duas estradas dum alcatrão gasto e polvilhado de terra clara onde passa um carro quando o rei faz anos.
As andorinhas fazem voos rasantes à piscina. Voam em circulo antes de picarem directas à água. Um pequeno toque na superfície e voltam a levantar em direcção ao céu. O fio eléctrico, além, serve como poiso temporário antes da árvore, na esquina e dum segundo voo picado para a água. O contacto é tão rápido que mal se apercebem da temperatura. Aí vem mais uma em direcção à água, uma rápida amaragem e zás que se faz tarde. Os pardais seguem-nas mas falta-lhes o jeito da andorinha. São pequenos imitadores, desajeitados, atrás das graciosas aves pretas e brancas. Começa a levantar-se vento. Sabe bem a brisa mas tenho que sair da sombra, sinto o corpo a arrefecer. Esquecia-me de lhes falar do vento. É praticamente o único som à nossa volta. O silêncio é ouvir somente o vento, ora nas árvores do lado esquerdo, ora nas da direita. Muito ao fundo percebe-se um motor. Aqui mais perto, as folhas da palmeira a baterem umas nas outras.
Tenho que terminar, são quase cinco, vamos ver como está a praia.
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