O meu sétimo filho

É o sétimo. Sempre foi e será o sétimo. O sétimo de nove, cinco irmãos e quatro irmãs.
Era assim que o pai o tratava, "o meu sétimo filho". Nunca soube se isso era bom ou mau, se lhe dava algum privilegio especial, somente sabia que tinha um estatuto próprio, era "o meu sétimo filho". Que diferença teria ser outro numeral qualquer, estar noutra posição da escala, ser tratado por "o meu n-ésimo fil
ho", para qualquer n inteiro, entre um e nove e diferente de sete?
Estava entre o sexto e o oitavo mas sentia-se, sempre se sentiu, no meio, nem pertencia ao grupo dos mais velhos, nem se sentia como sendo do mundo dos mais novos. Como seria estar mesmo no meio, ser o quinto? Essa posição não era sua, era duma das suas irmãs e só dela que, talvez por esse facto ou por ter nascido em Maio, era gémeos, estava no meio de duas metades iguais, pelo menos em número. Ele era peixes, poderia estar no meio mas seria, antes, no meio do mar, a nadar no imenso oceano. Que imagem interessante, pensou, era isso mesmo, sentia que estava numa ilha no meio do oceano, onde florescia a sua tribo, pertencendo a um arquipélago de mais umas quantas ilhas, umas mais próximas, outras mais distantes mas sem nenhuma ordem aparente. Ao longo dos anos, outras pequenas ilhas apareceram em torno das primeiras nove formando novos arquipélagos e ligando- se a outros. Pensou que gostava especialmente destas ilhas mais recentes, tê-las conhecido enquanto pequenas elevações no oceano, depois vê-las crescer, florescer e agora a criarem novos e bonitos arquipélagos. Os habitantes das ilhas visitavam-se de tempos a tempos, nas ocasiões da vida ou para, pura e simplesmente, estarem juntos, olharem-se, colocarem a conversa em dia. Nestes momentos, com o tempo, ser sétimo foi perdendo significado. Com o tempo começou a sentir-se como pertencendo, cada vez mais, a um maior arquipélago, com ligações a vários outros e onde ser sétimo ou outro qualquer numeral era perfeitamente indiferente.
E se fosse o primeiro, correctamente a primeira, ou o último, o nono, sim o nono, porque era um rapaz? Que diferença teria, que extraordinárias outras vivências teria vivido?
A primeira, igualmente, tem um estatuto especial, é a primogénita, ou seja, de acordo com o dicionário, aquela que foi gerada em primeiro lugar, a primeira filha. O último é o caçula, o irmão mais novo, o último da família. Além destes, só o segundo tem uma designação especifica, sendo rapaz, é o varão, o primeiro filho homem. Todos os outros são simplesmente numerais, como ele, o terceiro, o quarto, o sétimo filho.
Pensou que era um tema interessante mas porque estar a pensar neste coisas agora? Porquê tantas perguntas e reflexões quando sabia que a resposta era uma e uma só, é o sétimo e mais nada, é e será sempre "o meu sétimo filho" tenha o significado e importância que tiverem.

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