Divagações
Hoje está nublado e o tempo arrefeceu um pouco, somente um pouco. Tem estado demasiado calor, em Lisboa, para o meu gosto. Este é o primeiro fim de semana aqui, depois da primeira semana de trabalho, depois das férias, como sabem, fora daqui. Tive o cuidado de não adjectivar a palavra férias, como primeiras, dado que já houve muitas outras no passado. Na verdade também não é o primeiro fim de semana, nem a primeira semana de trabalho após umas férias, mas a língua portuguesa é assim mesmo, precisamos adjectivar para que se perceba o que queremos dizer. Poderá, igualmente, ser preguiça minha para encontrar outra forma de escrever o que pretendo, talvez hajam outras formas de expressão. Adiante, é o presente fim de semana, este, que está em causa neste momento, este maldito primeiro fim de semana, em que, como em outros iguais, me sinto, sempre, como peixe fora de água. Parece mas já não são férias, queremos prolongar o momento, tentamos, mas já não é a mesma coisa, já temos a cabeça poluída com outros afazeres, já temos os sentidos alerta para mil outras coisas. Mais importante, falta o peixe e o carvão e aquela predisposição para as coisas simples da vida. O pessoal já mudou o modo de funcionamento e aquela disposição para pouco fazer, para estar a preguiçar, quase desapareceu. O peixe ainda se vai arranjando. Na sexta comi peixe espada, ontem caldeirada e hoje sardinhas no forno numa nova receita que a Maria João quis experimentar e que resultou bem, mesmo bem. Eu fiz o arroz para acompanhar e o pessoal não se queixou. Quando digo "o pessoal" refiro-me a todos menos a minha princesa. Essa está feliz, soube ontem que entrou para gestão no ISEG, mas está com as dificuldades próprias da idade. Pouco grave, tenho muita sorte, mas suficiente para me fazer falta a sua companhia. Sei que vai passar e que, um dia destes, sem dar por isso, tenho uma princesa, já mulher, com quem vamos continuar a passar os melhores momentos da vida. Agora ela precisa de estar com ela e com os amigos. Só temos que saber esperar e aproveitar os poucos, mas bons, momentos com que ela, entretanto, nos vai presenteando.
Mais uma vez entrar em férias foi a coisa mais fácil do mundo. Uma primeira semana, mais complicada, para descomprimir, tipo bóia a murchar no final dum dia de praia, a segunda semana para acamar, isso mesmo, dormir, dormitar, dolce far niente, para finalmente, na terceira, ficarmos completamente em férias. E ai está o problema, no final da terceira, temos que voltar para a guerra e para a dura realidade da austeridade. É duro mas tem que ser, alguém tem que pagar as férias.
Esta semana uma amiga, uma amiga da mesma praia como costuma frisar, disse-me que se adaptaria, com a maior das facilidades, a viver sempre em férias. Eu diria que totalmente em férias também nāo mas quase porque, mesmo resmungando, gosto de fazer alguma coisa na vida, gosto especialmente de pensar, de procurar novos caminhos, de procurar soluções. Continuo a não entender porque não conseguimos, pelo menos falo por mim, dosear melhor o trabalho e o descanso. Eram só vantagens. Se cada um trabalhasse menos, haveria mais emprego até porque haveria maior necessidade de ocupar o lazer, criando mais emprego. Descansando mais seriamos maus produtivos, melhores pessoas. Parece-me simples e penso que deveria ser o resultado duma, cada vez, maior automação dos processos produtivos (aqui está de acordo com o novo acordo ortográfico, sem cê, mas custa-me escrever assim). Na verdade tem sido o contrário, trabalhamos mais, pior e com menos qualidade de vida.
Esta crónica hoje está a derivar para muitos lados. Voltemos ao que interessa, a preguiça. Ontem, fomos dizer ao Tejo, o rio da minha aldeia, que já tínhamos voltado. Na verdade foi ele que primeiro vimos e sobrevoámos no final da viagem de regresso. É bonito de todas as perspectivas, ângulos e lugares, mas eu gosto especialmente de o ver, passeando à sua beira, na zona norte da expo (para mim a expo não acabou, continua como Parque das Nações), debaixo da ponte, vendo o bando de pássaros que desfruta do lodo e das águas. Na primeira semana de férias vimos aqui, além de gaivotas e outros pássaros que não sei o nome, cinco ou seis flamingos rosa. Lindo! Muito bom sinal, penso eu como leigo da matéria mas observador do que me rodeia, do que posso ver, sentir e cheirar. Ontem avistámos um pernalta, parecido com os flamingos, um pouco menos elegante e completamente cinzento.
Hoje bebemos um café no Altis Belém. Um pequeníssimo luxo que espero poder continuar a ter e que recomendo a todos. O nosso Tejo, ali ao lado, uma pequena brisa, sol, turistas, veleiros e outras embarcações e ficamos reconciliados com Lisboa. Damos por encerradas as férias.
Nota do autor: tive o cuidado de escrever embarcações dado que, como quase violentamente fui informado na minha primeira semana na Lisnave, barcos não existem, somente navios e embarcações, sendo estas últimas de vários tipos.
Mais uma vez entrar em férias foi a coisa mais fácil do mundo. Uma primeira semana, mais complicada, para descomprimir, tipo bóia a murchar no final dum dia de praia, a segunda semana para acamar, isso mesmo, dormir, dormitar, dolce far niente, para finalmente, na terceira, ficarmos completamente em férias. E ai está o problema, no final da terceira, temos que voltar para a guerra e para a dura realidade da austeridade. É duro mas tem que ser, alguém tem que pagar as férias.
Esta semana uma amiga, uma amiga da mesma praia como costuma frisar, disse-me que se adaptaria, com a maior das facilidades, a viver sempre em férias. Eu diria que totalmente em férias também nāo mas quase porque, mesmo resmungando, gosto de fazer alguma coisa na vida, gosto especialmente de pensar, de procurar novos caminhos, de procurar soluções. Continuo a não entender porque não conseguimos, pelo menos falo por mim, dosear melhor o trabalho e o descanso. Eram só vantagens. Se cada um trabalhasse menos, haveria mais emprego até porque haveria maior necessidade de ocupar o lazer, criando mais emprego. Descansando mais seriamos maus produtivos, melhores pessoas. Parece-me simples e penso que deveria ser o resultado duma, cada vez, maior automação dos processos produtivos (aqui está de acordo com o novo acordo ortográfico, sem cê, mas custa-me escrever assim). Na verdade tem sido o contrário, trabalhamos mais, pior e com menos qualidade de vida.
Esta crónica hoje está a derivar para muitos lados. Voltemos ao que interessa, a preguiça. Ontem, fomos dizer ao Tejo, o rio da minha aldeia, que já tínhamos voltado. Na verdade foi ele que primeiro vimos e sobrevoámos no final da viagem de regresso. É bonito de todas as perspectivas, ângulos e lugares, mas eu gosto especialmente de o ver, passeando à sua beira, na zona norte da expo (para mim a expo não acabou, continua como Parque das Nações), debaixo da ponte, vendo o bando de pássaros que desfruta do lodo e das águas. Na primeira semana de férias vimos aqui, além de gaivotas e outros pássaros que não sei o nome, cinco ou seis flamingos rosa. Lindo! Muito bom sinal, penso eu como leigo da matéria mas observador do que me rodeia, do que posso ver, sentir e cheirar. Ontem avistámos um pernalta, parecido com os flamingos, um pouco menos elegante e completamente cinzento.
Hoje bebemos um café no Altis Belém. Um pequeníssimo luxo que espero poder continuar a ter e que recomendo a todos. O nosso Tejo, ali ao lado, uma pequena brisa, sol, turistas, veleiros e outras embarcações e ficamos reconciliados com Lisboa. Damos por encerradas as férias.
Nota do autor: tive o cuidado de escrever embarcações dado que, como quase violentamente fui informado na minha primeira semana na Lisnave, barcos não existem, somente navios e embarcações, sendo estas últimas de vários tipos.
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