Senta-se na Praia
Senta-se na praia como sempre o fez, na areia. Neste particular, é como não tivesse envelhecido, um ano que fosse. As mesmas sensações na pele, os mesmos cheiros em redor, a mesma descarga de ansiedade. Sempre gostou do contacto com a areia (apesar de não conseguir calçar umas sandálias (dado que não usa chinelos) sem primeiro extrair, cuidadosamente, cada e todos os grãos de areia dos dois pés).
Hoje, senta-se na toalha, mas com os pés e as mãos em contacto com o tapete de areia fofa e morna. Vai brincando, deixando os grãos escoarem-se entre os dedos. Pequenos granulos ficam-lhe presos entre a unha e o sabugo. Nada que não se resolva passando as pontas dos dedos na toalha ou, nos casos maus bicúdos, fazendo o esforço de ir ao mar mergulhar os dedos na água.
Nunca gostou de estar o dia todo ao sol, a torrar um lado e depois o outro. Também nunca foi versado para os desportos de praia (ou fora dela) e nunca gostou de ler na praia (demasiada luz e distrações). Sempre gostou de fazer construções na areia ou simplesmente sentar-se na areia observando e escutando os sons da praia, as conversas da familia, as conversas nos outros toldos. O melhor desporto de praia é, sem a mínima dúvida, observar, escutar e imaginar a vida dos habitantes dos outros toldos. Aquele ali tem namorada nova, deixou a mulher gorda e amantizou-se (assim dizia a minha avó) com outra. O problema é que tem que trazer o filho a reboque. Aqueles além são um casalinho casado de fresco. Estas duas, à direita, são um pouco estranhas. Aqueles devem ser emigrantes em França ou no Luxemburgo. Mais adiante uma familia Inglêsa tentando ganhar um pouco de cor mas só conseguindo ficar tão vermelhos que até doi.
O sol começa a baixar. A aragem passa a vento fresco. É tempo de voltar à realidade e ganhar coragem para calçar as sandálias. Amanhã será mais um dia, na areia, observando.
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