Amiga Rosarinho

Li recentemente, que ninguém, aos 20 anos, se preocupa com o passar do tempo. Nessas idades as memórias têm uma presença algo vaga. É preciso chegar aos 40 para entender a profundidade e o alcançe de alguns maravilhosos textos sobre memórias, como seja, O Chalet da Memória de Tony Judt. O passar do tempo, as imagens, sensações e cheiros que recordamos e perduram, mais ou menos nitidamente, que, em conjunto, fazem muito daquilo que somos.
No nosso caso, entrei no comboio a meio do percurso quando este já tinha passado por muitas e interessantes estações. Andava por outras paisagens quando as nossas linhas se cruzaram. Ainda bem que o fiz, apesar de sempre sentir alguma pena - confesso que inveja em algumas alturas - de não ter partilhado esse vosso tempo de infância e juventude, essas estações, travessias e apeadeiros que recordam sempre com especial brilho nos olhos. Os grupos de amigos, as cumplicidades, os amores, os desamores, as guitarras, a música, os verões, as casas, a praia, as fotos, as festas, os pequenos episódios, os segredos, a comida da Georgina, as cumplicidades. Quando vos oiço (re)crio mentalmente imagens que estão entre as Aventuras dos Cinco e Os Pequenos Vagabundos. Fica-me ainda mais nítido que o local a que pertencemos nem sempre é claro. Misturam-se as memórias e passamos a partilhar alguns desses lugares. São essas memórias que nos dão uma sensação de pertença a algum lugar a que voltamos sempre que precisamos de saber quem somos.
Somos da maravilhosa colheita de 1965 . Sinto que estamos a meio desta viagem. As memórias da infância e juventude, sempre presentes, ficam lá para trás. As certezas também. No entanto, surge uma outra calma e uma ainda maior vontade de viver esta parte do percurso, de aproveitar as estações, travessias e apeadeiros que temos pela frente.
Minha estimada Amiga, aceite os meus parabéns e continuação de boa viagem.

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